03 junho 2014

Contribuindo para um mundo menos perigoso e injusto (II)

Mas, Pipoco, e se nós acharmos que ela se está a insinuar, pois então se ela se roçou por nós na pista de dança e passou a língua pelos lábios e apontou para nós e no fim nos diz que percebemos tudo mal? 

Se ela diz que não, então é não. Um não é um não. Sempre. Sem segundas leituras ou interpretações.

Mas, Pipoco, e se ela tiver um decote dos grandes, podemos olhar-lhe para as mamas? 

Não. Somos pessoas civilizadas e sabemos perfeitamente como são umas mamas, não vale a pena estar a invadir espaços e a criar situações de desequilíbrio de forças. No limite, podemos olhar de relance quando ela virar a cara para chamar o empregado, desde que, quando ela se voltar de novo para nós, sejamos rápidos e os nossos olhos estiverem já ao nível dos olhos dela.

Mas, Pipoco, e para o rabo, podemos olhar para o rabo? 

Bem, aqui a literatura divide-se, alguns especialistas afirmam que sim, uma vez que, não estando elas a ver, isso não configura invasão de privacidade. No entanto, alguns autores defendem que, existindo a possibilidade de elas se voltarem de repente, pode dar-se o caso de darem conta de que lhes estávamos a olhar para o rabo, pelo que tal situação configuraria uma moldura idêntica à de lhes olharmos para as mamas. Por prudência será sempre mais aceitável não lhes olhar para o rabo, a não ser que se seja rápido a desviar o olhar em caso de manobra brusca por parte dela.

Mas, Pipoco, podemos dizer a uma mulher que ela é bonita? 

Depende. Se for nossa familiar até ao segundo grau ou mulher do nosso melhor amigo, podemos, desde que utilizemos um léxico adequado. Um "estás tão boa" é diferente de "estás muito bonita, com esse vestido de padrões florais, que te assenta tão bem e te confere um ar primaveril", a não ser que queiramos manifestar um misto de incredulidade e surpresa por uma mulher ter recuperado de um triplo AVC, seguido de atropelamento por um camião de seis rodados, situação em que a expressão "estás tão boa", por estar devidamente contextualizada, é aceitável. O "és mesmo boa" deve ser utilizado apenas quando nos dirigimos a mulheres que tenham uma comprovada acção filantrópica.

Mas, Pipoco, afinal quais são as fronteiras intransponíveis, seja aqui ou no Burkina Faso, sejam homens ou mulheres?

Primeira:  um "não" é um "não".
Segunda: nenhum tipo de violência é admissível nem tolerável, seja ela psicológica, verbal ou física.